sexta-feira, 19 de março de 2021

PAIS E FILHOS


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Resolvi hoje fazer a minha análise sobre a música Pais e Filhos, do Legião Urbana.


A idéia surgiu após uma conversa que eu tive com meu pai, que assim como muitas pessoas, não sabia que a música falava sobre um suicídio. E ele ficou chocado.


Muitas vezes escutamos e até cantamos canções sem saber a mensagem que ela nos quer passar. Digo isso, porque há músicas que querem dizer uma coisa, mas as pessoas entendem outra completamente diferente, por conta de sua melodia. Dois exemplos que eu posso citar sobre isso, são as canções Every Breath You Take do The Police e Como Eu Quero do Kid Abelha. As duas parecem duas canções de amor inofensivas, mas na verdade ambas falam sobre relacionamentos tóxicos, de pessoas problemáticas.


Na canção do Police fala sobre um cara que começa a perseguir compulsivamente uma garota, ou que não aceite o término da relação, ou que criou a relação em sua cabeça: Every step you take, I'll be watching you - Cada passo que você der, eu estarei te observando.


Já em Como Eu Quero, a garota é que é problemática, porque as coisas dentro do relacionamento tem que ser como ela quer, que podemos ver nos versos: Tira essa bermuda que eu quero você sério; Solos de Guitarra não vão me conquistar; O que você precisa é de um retoque total. Ou seja, ela quer estar com a pessoa, sim, mas tem que ser do jeito dela. Por isso, no refrão esta frase e meio subjetiva: Eu quero você, como "eu" quero.


Voltando a canção do Legião, esta é, com certeza, uma das minhas favoritas, assim como são as canções: Andrea DoriaL'avventuraTempo PerdidoEsperando Por Mim"Índios", Vento no Litoral Giz.


Para entender melhor, precisamos ter em mente o que há por trás desta composição. O que se sabe é que Renato pegou trechos de um livro chinês, que estava num quarto de hotel, e usou no refrão.


Circula pela internet que a música, parte de uma história real que aconteceu com uma amiga do próprio Renato, que após uma discussão com os pais, cometeu suicídio, saltando do 5º andar de um prédio em Brasília. Mas na verdade, Renato compôs a música por conta da depressão e sua luta contra o alcoolismo. 


Certa vez, ele chegou a cortar os próprios pulsos por conta da abstinência. Fato este que podemos ver no refrão da música "Índios" (Eu quis o perigo e até sangrei sozinho...entenda). E é por esta razão, que Renato não gostava de cantá-la em shows, porque ela aborda um tema pesadíssimo, o suicídio.


Logo nos primeiros versos, Renato se põe como um trovador solitário, um contador de história, assim como ele faz em Faroeste Caboclo, ClarisseEduardo e Mônica. E aqui, ele vai narrar a história desta "garota".

A música já começa dentro de prédio luxuoso com suas:
Estátuas e cofres, e paredes pintadas.


Então, um suicídio inesperado:
Ninguém sabe o que aconteceu, ela se jogou da janela do quinto andar, nada é fácil de entender.


A partir daqui, os pais vão ver a sua filha já crescida (no presente), mas vão se lembrar dela na infância. 
Os pais acalmam a filha na infância: 
- Dorme agora!
- É só o vento lá fora!
A filha responde:
- Quero colo!



A agora adolescente diz:
- Vou fugir de casa!
Mas os pais se lembram dela criança:
- Posso dormir aqui com vocês? Estou com medo... Tive um pesadelo!
E então, a agora adolescente diz:
- Só vou voltar depois das três.


A filha sai, e os pais nesta difícil relação com a filha crescida, se lembram de quando escolheram do nome da criança:
- Meu filho vai ter nome de santo...
- Quero o nome mais bonito!


No refrão, Renato nos puxa para a realidade, onde a garota está morta:
É preciso amar as pessoas,
Como se não houvesse amanhã.
Porque se você parar pra pensar,
Na verdade não há...


Neste trecho, Renato vai intercalar diversas histórias diferentes, entre pais e filhos.
Um criança pergunta:
- Me diz por que o céu é azul?
Um adolescente questiona:
- Me explica a grande fúria do mundo...
Um pai diz:
- São meus filhos que tomam conta de mim!
Uma criança de pais separados diz:
- Eu moro com a minha mãe, mas meu pai vem me visitar.
Um morador de rua diz:
- Eu moro na rua, não tenho ninguémEu moro em qualquer lugar!
Um órfão diz:
- Já morei em tanta casa que nem me lembro mais!
Um criança responde:
- Eu moro com meus pais!


Vem novamente o refrão, nos puxando para a história e para a mensagem que ela nos quer passar:
É preciso amar as pessoas
Como se não houvesse amanhã
Porque se você parar pra pensar,
Na verdade não há.


Aqui Renato finaliza nos dando um choque de realidade, mostrando como somos frágeis, pequenos, e também ao mesmo tempo, diz uma pessoa não é nada sem ninguém, não vive sozinha, não é o centro do universo:
Sou uma gota d'água,
Sou um grão de areia.


Em seguida, Renato nos mostra que inevitavelmente erros são e ainda serão cometidos, por pais e filhos, ao logo do caminho, mas que precisamos dar uma chance ao diálogo, para que outras histórias não terminem como esta:
Você diz que seus pais não entendem, Mas você não entende seus pais. Você culpa seus pais por tudo, isso é absurdo, são crianças como você.


Então Renato finaliza a canção com um questionamento que todo adulto pergunta para uma criança, mostrando a nós, que este é o ciclo da vida, onde os pais de hoje foram as crianças de ontem:
- O que você vai ser quando você crescer?


É como se ele nos pergunta-se, o que vamos fazer depois de ouvir esta história, e a resposta para esta pergunta, está em cada um de nós.

Família: palavra com sete letras que significa tudo.


- PaZeLuZ
#tinhoaires

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